A Terapia de Reposição Hormonal (TRH) é um polêmico tratamento
para a menopausa. Seria ela uma doença que precisa ser tratada? Embora seja
descrita como uma fase natural da vida de qualquer mulher, a menopausa vem
muitas vezes acompanhada de uma série de sintomas desagradáveis.
Por outro lado, o tratamento com hormônios também pode
acarretar em alguns riscos, principalmente no que diz respeito ao câncer de
mama, embora, de acordo com especialistas, esta incidência não esteja
comprovada.
Antes de falarmos do tratamento, seus benefícios e
conseqüências, no entanto, cabe, para começarmos, definir precisamente a
menopausa.
A Menopausa
De acordo com o Comitê de Nomenclaturas da Federação
Internacional de Ginecologia e Obstetrícia, a menopausa é a fase em que a mulher
passa do estágio reprodutivo para o não reprodutivo.
Em outras palavras, a menopausa é a parada de funcionamento dos
ovários, que deixam de produzir os hormônios estrógeno e progesterona. Não é uma
doença, mas apenas um estágio na vida da mulher.
Sua principal característica é a parada das menstruações,
embora possa anunciar-se pelas irregularidades menstruais, hemorragias ou
escassez de menstruação. Ocorre geralmente entre os 45 ou 55 anos, mas pode
variar bastante de mulher para mulher.
Embora algumas mulheres nada sintam durante a menopausa, alguns
sintomas podem ocorrer com freqüência, tais como ondas de calor ou fogachos
(acontece de 75 a 80% das mulheres), suores noturnos, insônia, baixa do desejo
sexual, irritabilidade, depressão, osteoporose, aumento do risco de doenças
cardiovasculares, ressecamento vaginal, dor durante o ato sexual e diminuição da
atenção e memória.
A causa destes sintomas está na diminuição de produção do
estrogênio, hormônio responsável, na adolescência feminina, pelo aparecimento
dos seus sinais sexuais secundários (crescimento das mamas, pêlos pubianos,
alargamento dos quadris, distribuição feminina da gordura, textura da pele,
entre outros).
Na menopausa, com a redução de produção deste hormônio, diminui
o brilho da pele feminina e a distribuição de gordura passa a concentrar-se na
barriga. Sem o estrogênio, a mulher passa a sentir secura vaginal e conseqüente
dor no ato sexual. Na ausência do estrogênio, desequilibram-se as gorduras no
sangue, o colesterol e o hdl-colesterol, o que aumenta a chance de ataques
cardíacos ou doenças cardiovasculares.
Por último, o estrogênio é responsável pela fixação do cálcio
nos ossos. Após a menopausa, grande parte das mulheres passará a perder o cálcio
dos ossos, doença chamada osteoporose, responsável por fraturas e por grande
perda na qualidade de vida da mulher. Estudos recentes têm associado a falta de
estrogênio também ao Mal de Alzheimer, perda total da memória.
Se não é doença,
por que tratar?
A principal pergunta que vêm depois da explicação sobre o que é
menopausa é a razão de procurar-se um tratamento, tendo em vista que estamos
falando de uma fase normal na vida da mulher, e não de uma doença.
Diante de toda esta sintomatologia e dos riscos que a falta de
estrogênio pode causar, parece que não restam muitas dúvidas sobre a necessidade
de aplicar-se a reposição hormonal.
Segundo o IBGE, ainda nesta década estaremos com 1/3 da população feminina vivendo em menopausa. Considerando a idade média da menopausa, por volta dos 45 anos, veremos também que as mulheres passarão um terço de suas vidas sem hormônios.
Segundo o IBGE, ainda nesta década estaremos com 1/3 da população feminina vivendo em menopausa. Considerando a idade média da menopausa, por volta dos 45 anos, veremos também que as mulheres passarão um terço de suas vidas sem hormônios.
Ginecologistas opinam que não há dúvidas sobre o benefício que
suas pacientes têm com o tratamento de reposição hormonal.
Cerca de 20% apenas precisam rever a medicação, trocando-a, mas
que todas, sem exceção, declaram-se extremamente beneficiadas pelo tratamento.
De acordo com vários estudos, 80% dos médicos ao redor do mundo são partidários
da TRH, porém recomendam sempre que tratamento deve ser sempre acompanhado por
um médico e monitorado freqüentemente.
Um dos principais danos causados pela deficiência de hormônio
ocorrida na menopausa é a perda de cálcio, que causa a osteoporose.
Ela aparece nos primeiros cinco anos da menopausa e é uma
doença muito grave, relacionada a fraturas de vértebras (coluna) e de bacia. O
tratamento com hormônios ou com substitutos hormonais reduz a ocorrência de
fraturas de bacia em 25% e de coluna em 50% e deve ser iniciado logo no início
da menopausa.
Outro fator importante a considerar é o risco de doenças
cardiovasculares, entre elas o infarto e o derrame. De acordo com
ginecologistas, o tratamento hormonal pode reduzir as mortes por doenças
cárdio-vasculares em aproximadamente 35%.
Uma estudo abrangendo 121.700 mulheres, publicado no New
England Journal of Medicine em 1995, revelou que uma mulher, que tomou hormônios
por mais de cinco anos, tem de 30 a 40% mais chances de desenvolver câncer de
mama. Nas mulheres com idade entre 60 e 64 anos, este risco aumentou para
70%.
A conclusão desta pesquisa científica é de que as mulheres que
usaram TRH por um período maior do que cinco anos, tem 45% mais chances de
morrer de câncer de mama, do que aquelas que não usaram ou que o fizeram por um
período menor.
De acordo com um vasto estudo publicado ainda mais
recentemente, no Journal of the American Medical Association (JAMA), em que
foram examinadas 46.000 mulheres, ficou demonstrado que o uso de
Premarin/Provera, na TRH, oferece maiores riscos de câncer de mama, do que o uso
de estrogênio não combinado.
Existem ainda uma série de efeitos colaterais e danos
fisiológicos causados pelo uso prolongado de estrogênio: maior risco de câncer
endométrico, incremento na gordura corporal, retenção de sal e de fluidos,
depressão e dores de cabeça, prejuízos no controle de açúcar no sangue
(hipoglicemia), perda de zinco e retenção de cobre, redução nos níveis de
oxigênio em todas as células, espessamento da bílis e promoção de doenças da
vesícula biliar, aumento da possibilidade de fibrocistos no seio e de fibrose
uterina, interferência na atividade da tireóide, diminuição do desejo sexual,
coagulação sangüínea excessiva, redução do tônus vascular, endometriose, cólica
uterina, infertilidade, e restrição à função dos osteoclastos.
No entanto, recomenda-se o uso de progesterona natural, por
considerar que todos estes estudos se referem às progestinas sintéticas. O
princípio ativo presente na progesterona natural e na sintética é o mesmo, não
havendo, portanto, esta diferença alegada.
A psicoterapia não resolve o problema, por que se trata de uma
desordem química do organismo. O hormônio também não é uma panacéia que vai
resolver todos os problemas femininos: não resolve casamento em crise nem
depressão pré-existente, mas alivia a maior parte dos sintomas causados pela
menopausa, estendendo a qualidade de vida da mulher.
Por outro lado o TRH também implica em algumas
contra-indicações, que devem ser monitoradas de perto pelo médico em sua
aplicação.
As principais contra-indicações à terapêutica estrogênica
seriam as hepatopatias atuais, tromboembolismo, anemia falciforme, hipertensão
arterial, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, epilepsia, cefaléia ou
enxaqueca, porfiria, câncer de mama, câncer de endométrio e tabagismo.
Na terapia baseada em progesterona, as contra-indicações seriam
as hepatopatias e tromboembolismo. Ainda assim, é possível, com mudanças nas
medicações aplicadas e suas doses, receitar a TRH mesmo para os pacientes que
possuem estas contra-indicações.
Diante de tantos efeitos e de tantas controvérsias, é essencial
que a mulher, antes de submeter-se a uma terapia hormonal, não apenas esteja
muito bem informada sobre todos os pós e contras deste tratamento, mas também
esteja realmente bem orientada por um profissional de sua confiança.
Com certeza a maioria dos médicos é bem intencionada e se
preocupa verdadeiramente com suas pacientes. No entanto, suas informações advém,
em boa parte das vezes, das próprias companhias farmacêuticas interessadas em
vender mais medicamentos. A busca de alternativas e os estudos sobre a menopausa
e seus sintomas permanece e merece toda a nossa atenção.